21 de setembro de 2010

Ele tomou Viagra, Ela chamou a polícia



Apresentem-me um homem que a partir de uma certa idade não se canse de ser velho e eu dar-vos-ei uma história diferente. Com a velhice perde-se a força nas pernas, a habilidade e a destreza nas mãos e nos pés, e até o coração, tão depressa acelera como logo a seguir falha e parece "pifar", como um motor que já está para além do prazo.
Com 82 anos, os mesmos da senhora dona Maria da Encarnação, sua esposa, Solidónio Matos ficou cansado de ser velho. Maria da Encarnação era a patroa da casa, servindo-lhe de amparo e companhia, um pouco à maneira como serve uma botija de pés, para aquecer as noites que vêm mais frias. Mas quanto ao resto… Bem, quanto ao resto, não passava de um corpo semi-morto, tão parado e cansado quanto o seu, que vivia inerte ao seu lado. Estavam ambos reformados e viviam uma vida calma e tranquila, até tudo se ter precipitado.
Como é que se pode mudar esta situação? Mas qual situação? A situação existencial de um casal de octogenários!
Solidónio passava o seu tempo entre as consultas no Centro de Saúde e as idas à farmácia, para aviar as receitas dos seus medicamentos. Era Sinvastatina, para o colesterol, Hyperexol, para a tensão arterial, Plavix, para o coração. E que tal Viagra, para voltar a fruir dos prazeres sensuais e sexuais, com a sua esposa? Farto da velhice e de um corpo que só servia para comer e dormir, Solidónio queria sentir-se novo outra vez, e o doutor Carlos Prudêncio, o seu médico família, na próxima consulta bem podia receitar-lhe aqueles comprimidos azuis, azuis porque andam na boca de todo o mundo, azuis porque quem os toma sente-se outra vez no céu, no auge da sua força e jovialidade, recuperando a sua antiga energia e virilidade.
Mas será possível a um homem de 82 anos mudar o curso do tempo? Solidónio achava que sim e por essa convicção enfrentou os olhares estranhos das pessoas, a ideia fixa que para a idade não há milagres, e até a perplexidade e o repúdio daqueles a quem a vida ainda se apresenta movimentada num vale de lençóis.
“Ele tomou Viagra, Ela chamou a polícia” é uma espécie de tragicomédia dos nossos tempos, com humor cáustico e negro qb, que não deixa, todavia, de nos interpelar em relação à nossa condição natural e existencial. O que é a vida humana? Depois de ter passado o primeiro terço, passar a vida a recordar? A idade, sobretudo se já se tem uma idade avançada, é má e ingrata. Mas porquê? E como é que podemos gerir o conflito entre a vivacidade da memória e das suas boas recordações num corpo já gasto e cansado, onde de mais a mais pode ainda co-existir com uma vontade em desacerto, que deseja muito para além daquilo que se consegue realizar?
“Ele tomou Viagra, Ela chamou a polícia”, de Miguel Almeida, um dos quatro textos que compõem a obra Já não se fazem Homens como antigamente, a publicar em Novembro, com a chancela da Esfera do Caos.

20 de setembro de 2010

Clara ou a Cinderela dos tempos modernos...





Falar da Clara, não é simples mas também não será assim uma tarefa muito árdua.
Clara é uma mulher como todas as mulheres. Tem sonhos, fantasias e desejos secretos que por educação tenta guardar só para si. Gosta de matar o tempo a ler horóscopos tentando antecipar-se ao destino. Adora vestidos fashion, mas só tem dinheiro para costurar trapos com originalidade.
Imagina-se todos os dias a ganhar a lotaria, e a viajar pelo mundo sem hora marcada para o regresso...
Depois, é uma mulher que vive de paixões e por isso vai perdendo o coração pelas esquinas da rua... Como perdem todas as mulheres apaixonadas.
Mas a vida de Clara, vai mudar... É o destino que o diz e Clara acredita no destino. Por isso corre contra o tempo para esbarrar literalmente com o seu grande amor.
Então, tudo muda… Clara volta a amar e é um amor intenso. Os defeitos da sua cara-metade pouco interessam aos olhos de quem vê tudo pintado com as cores do arco-íris. Ela sorri, quando provavelmente deveria chorar. Há um coração cego por aí, mas é um coração que se sente extraordinariamente feliz. Mas não é isso que realmente interessa? Ter um coração feliz?
O que pode fazer Clara para tentar que essa felicidade nunca mude? Congelar o tempo? Fingir que tudo continuará perfeito. O Tony é o seu príncipe... O príncipe de todas as histórias de encantar. Não tem um cavalo branco? Que pormenor tão banal para ela! Ele é perfeito... Para a Clara é um homem perfeito. Pode ressonar durante a noite, gostar da sua cervejinha quando vai ver a bola, praguejar em demasia, e até mesmo olhar para todas as mulheres com saias com mais de 2 dedos acima do joelho. É o homem que Clara escolheu nos seus sonhos… O homem que a faz tão feliz. Talvez acredite que um amor assim possa ser eterno…


Clara ou a Cinderela dos tempos modernos, é um texto escrito por Daniela Pereira e fará parte do projecto a 4 mãos " Já não se fazem Homens como antigamente" .

19 de setembro de 2010

A Lâmina do Amor


Poderá alguém apaixonar-se em menos de 72 horas, à distância, sem conhecer pessoalmente o alvo da sua paixão?

Esta é a questão que dá o mote ao texto “A Lâmina do Amor”.

A família Silva vive em Lisboa, há cerca de nove anos, de uma forma tranquila e rotineira, até ao momento em que, num abafado Verão, um elemento externo ao núcleo familiar, conhecido através da Internet, vai desestabilizar a harmonia do casal e, por consequência, a da pequena Ana, filha de apenas nove anos.

Conseguirá o Amor construído ao longo de mais de uma década resistir a uma intensa e repentina paixão virtual?

“A Lâmina do Amor”, escrito por Pedro Miguel Rocha, é um dos quatro textos que compõem a obra “Já não se fazem Homens como antigamente”.