4 de novembro de 2010

Está aí a rebentar o novo romance do Pedro Miguel Rocha!


Estranhamente, um livro publicado na década de 90, por Xosé Perez, um jovem escritor galego, é riscado do panorama comercial e editorial por alguns sectores políticos, empresariais e policiais. A contestatária obra, que defendia um inequívoco regresso aos valores e tradições do Passado e uma radical mudança das hierarquias cristalizadas pela sociedade capitalista, é censurada, os seus exemplares são destruídos e o seu autor é perseguido, incriminado e condenado.

Cerca de uma década depois, um jovem bibliotecário inglês, Chris Brown, descobre um exemplar escondido no depósito da Biblioteca Pública de Old Harlow. Ao investigar o seu contexto e ao querer fazer renascer a mencionada obra, o bibliotecário irá, perigosamente, confrontar-se com aqueles que haviam eliminado o rasto da mensagem de Xosé Perez há mais de dez anos.

Chegámos a Fisterra leva-nos a reflectir sobre a possível existência de uma sociedade paralela que, na obscuridade, manipula a informação, conduzindo as massas ao encontro dos seus interesses, sejam eles políticos, judiciais ou comerciais.

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LANÇAMENTO: 16 de NOVEMBRO de 2010!



3 de novembro de 2010

Excerto do texto "Clara ou a Cinderela dos tempos modernos"

Clara tinha aquela noite pensada até aos últimos detalhes... Desde a cor da sombra dos olhos que ia usar, passando pelo tom das unhas dos pés e terminando nos palavrões que daria, quando o seu Tozé estivesse em plena acção. Nada lhe tinha escapado, porque Clara era uma verdadeira estratega, e quando se quer travar uma guerra, todos os ataques têm que ser bem planeados.
Por isso, a nossa Clara tinha muitos truques na manga e acessórios também! Sim, porque acessórios não faltavam naquele quarto. Havia de tudo naquela cama, porque ela teve o cuidado de “encher bem a despensa”.
O homem da Sex Shop até ficou um pouco espantado com toda a artilharia que Clara decidiu comprar. Ele lá lhe foi explicando, com calma, que ela e o seu Tozé só deveriam usar um “brinquedinho” de cada vez e sempre respeitando os tempos de repouso... É que existia a hipótese de Clara, por excesso de “oferendas”, poder levar o seu companheiro a um esgotamento.
Sim, porque tanta acção matava qualquer um de exaustão! É que nem o Alexandre Frete, com aquele cabedal todo, seria capaz de dar conta do recado por muito tempo... Mas olhe que o “negrão” usava daqueles suplementos vitamínicos, mas reforçados e em dose cavalar!
Quando o homenzinho lhe dirigiu aquelas palavras, Clara ficou toda atrapalhada e só desejou que o disfarce que usava a pudesse manter incógnita, perante todas aquelas pessoas presentes na loja. A peruca loira até que não foi má escolha e os óculos de sol tamanhos XXL também ajudava. Clara estava mesmo irreconhecível, com aquele visual dos anos 70.

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Excerto do texto "Clara ou a Cinderela dos tempos modernos" de Daniela Pereira ... uma história que faz parte do livro "Já não se fazem Homens como antigamente" editado pela Esfera do Caos

1 de novembro de 2010

Excerto do texto "Ele tomou Viagra, Ela chamou a Polícia"

«Então, diga-me lá», começou por lhe dizer Solidónio Matos. «O senhor doutor vai ou não passar-me a receita para os tais comprimidos azuis do Viagra?», perguntou-lhe logo a seguir, sem mais considerações nem rodeios.
«Tente lá perceber uma coisa, senhor Solidónio», começou por lhe dizer o doutor Carlos Prudêncio. «Aquilo que lhe disse ainda há pouco acerca das limitações relativas às prescrições de medicamentos a alguns doentes não é para este tipo de fármacos, nem é para pessoas com as idades que têm o senhor Solidónio e a senhora dona Maria da Encarnação», acrescentou logo a seguir.
«Tem razão, doutor», começou por lhe dizer Solidónio Matos. «Mas olhe lá, doutor, passe-me lá a tal receita para os comprimidos azuis do Viagra, que eu e a minha patroa cá nos haveremos de arranjar», acrescentou logo a seguir, com uma postura calma e tranquila.
«Três comprimidos», começou por lhe dizer o doutor Carlos Prudêncio. «É uma embalagem com apenas três comprimidos, aquilo que eu lhe vou receitar», acrescentou logo a seguir.
«Não importa doutor», começou por lhe dizer Solidónio Matos. «No fundo, é apenas para experimentar», acrescentou logo a seguir.
«O senhor Solidónio deve tomar apenas um comprimido cerca de uma hora antes», começou por lhe dizer o doutor Carlos Prudêncio, enquanto lhe prescrevia a receita. «E os outros dois comprimidos, o senhor Solidónio guarda-os para as outras duas vezes», acrescentou logo a seguir, tentando ser o mais explícito possível em relação às indicações que lhe estava a dar.
«Entendido», começou por lhe dizer Solidónio Matos. «O senhor doutor é que manda», acrescentou logo a seguir.
«Eu já nem sei o que lhe diga, senhor Solidónio», conseguiu dizer o doutor Carlos Prudêncio, antes de ter sido interrompido.
«Não diga nada, doutor, que eu também vou tentar fazer o mesmo», limitou-se a dizer Solidónio Matos, depois de o interromper.
«Tenha um bom dia, senhor Solidónio», limitou-se a dizer o doutor Carlos Prudêncio, pouco tempo depois, já em jeito de despedida.
«Desejo-lhe um bom dia também para si, doutor», começou por lhe dizer Solidónio Matos. «E o doutor não se preocupe, o doutor Carlos Prudêncio não se preocupe, que eu e a minha patroa cá nos haveremos de arranjar», acrescentou logo a seguir, tendo-lhe repetido assim aquilo que já lhe tinha dito antes.
«Eu já sabia», começou por dizer o doutor Carlos Prudêncio, como se estivesse apenas a falar consigo próprio. «A velhice não nos traz sabedoria nenhuma, apenas nos dá autorização para fazer outro tipo de loucuras», acrescentou logo a seguir, palavras que Solidónio Matos ainda conseguiu ouvir, quando já se encontrava a transpor a porta de saída do consultório, com a pretendida receita para os comprimidos do Viagra na mão.


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"Ele tomou Viagra, Ela chamou a Polícia" é um texto de Miguel Almeida incluído no livro "Já não se fazem Homens como antigamente" da Editora Esfera do Caos.